A soberania do nosso futuro digital.
A soberania do nosso futuro digital.
A corrida global por inteligência artificial escancarou uma nova forma de desigualdade. E boa parte do mundo ficou para trás antes mesmo da largada.
Enquanto os avanços da IA dominam as manchetes, um abismo se forma entre os países que têm poder de computação e os que não têm. Segundo uma investigação do New York Times, baseada em dados da Universidade de Oxford, apenas 32 nações possuem data centers capazes de treinar modelos de IA generativa (fonte). A maioria está no hemisfério norte.
Estados Unidos, União Europeia e China lideram com folga. Juntos, concentram mais da metade da infraestrutura de IA mais avançada do planeta. Para o resto do mundo, inclusivo o Brasil, resta alugar capacidade computacional e pagar caro por isso.
“Não é apenas uma questão de hardware. É a soberania do nosso futuro digital”, alertou Lacina Koné, diretor da iniciativa Smart Africa.
O custo para entrar nesse jogo é brutal. As GPUs necessárias para treinar IA passam facilmente dos 30 mil dólares por unidade. E grandes centros, como o “Colossus”, de Elon Musk, abrigam mais de 200 mil dessas placas.
Isso deixa países em desenvolvimento em clara desvantagem. Startups africanas, por exemplo, precisam adaptar seu ritmo à geografia digital. A Qhala, do Quênia, treina modelos de linguagem nas primeiras horas do dia, quando a demanda por servidores americanos é menor.
“A proximidade com a infraestrutura é essencial”, afirma Shikoh Gitau, fundadora da Qhala. Sem isso, a inovação simplesmente não avança.
A desigualdade no acesso à IA está redesenhando o mapa do poder global. Vili Lehdonvirta, professor de Oxford, faz uma comparação direta. Segundo ele, assim como os países produtores de petróleo tiveram peso desproporcional no século 20, quem controla os chips e data centers de IA terá influência decisiva nas próximas décadas.
Mesmo com os alertas sobre os riscos da IA, como alucinações, uso irresponsável e falta de dados para continuar treinando os modelos, a corrida continua. A promessa de lucro e poder ainda fala mais alto.
E até que se prove o contrário, a IA seguirá sendo uma alavanca de vantagem para os poucos países que conseguiram construir sua própria base tecnológica. Os demais? Vão depender dos gigantes para acessar a revolução.